
A história tem início antes, um pouco antes dos tempos amalucados de FAUUSP quando, em plenos anos 1980, muito se falava do modernismo de Le Corbousier e suas propostas de moradias populares com as “unidades mínimas de habitação”. O concreto estava em voga e era apresentado sem adornos ou elementos rebuscados, traduzindo o despojamento necessário de pensadores que acabavam de voltar do exílio com uma consciência marxista extrema. Naquela época, relembra o arquiteto Ricardo Hering, acabara de ser lançado o primeiro AutoCad, um software que até hoje é hit entre os profissionais da área, e na verdade não se sabia exatamente para que servia uma vez que sua funcionalidade era mínima. Louco por tecnologia e feliz proprietário de um PC 8088, hoje peça de museu, o arquiteto fazia as suas primeiras incursões no mundo da informática tentando obter o melhor daquele recurso que hoje... bem, que hoje poderia ser considerado como da idade da pedra.
Aqueles tempos de FAU foram os últimos da “geração Artigas”, uma referência ao reverenciado arquiteto modernista Villanova Artigas, professor e orientador do trabalho de conclusão de curso de Ricardo. A preocupação na época era a estética, o racional, o possível. Nada de viagens, o ideal é uma construção lógica, segura e funcional. Tendo esses três parâmetros prontos é hora de sim – por que não? – ousar. “Eu sempre comparo arquitetura com uma equação matemática porque quanto mais elementos você inserir na equação, melhor será o resultado. Ou seja, eu acho importante contemplar os mais variados aspectos para que se cubra o maior número possível de possibilidades”. A ideia é considerar em um projeto elementos como espaço, infraestrutura básica, entorno, insolação, objetivo e considerações sobre necessidades de adaptações futuras.
Ricardo conta que na faculdade era pregado que o arquiteto tinha que definir o modus vivendi do cliente, ele é quem ditava as regras de uso de determinada estrutura. “Eu sentia que era esperado até mesmo mudar o estilo de viver das pessoas em função de um projeto. Isso foi parte de uma geração de arquitetos-celebridades que, impositivos, levavam muito pouco em conta os desejos e anseios do cliente”, complementa.
Ricardo Hering foi construindo sua carreira na contramão desses conceitos e chegou à conclusão – um daqueles momentos de aprendizado da vida – em que devia fazer tudo o que o cliente queria dentro dos limites técnicos. Porém percebeu que também tanto ao mar não estava dando muito certo, estava menosprezando seu potencial criativo com um resultado de qualidade, porém pobre. Com o tempo e a experiência o tão esperado meio-termo chegou. Transita muito bem entre as aspirações do seu cliente e as necessidades técnicas, canalizando a criatividade para soluções pra lá de descoladas.
Hoje, com 28 anos de estrada, continua um admirador ferrenho de tecnologia em suas mais variadas formas, não perde uma inovação. Um exemplo disso é a sua expertise em BIM (Building Information Modeling), última tendência mundial de projetos em arquitetura. E na esteira desse conceito surgiu o Revit, um dos softwares utilizados na aplicabilidade desse conceito e o maior diferencial de sua empresa, uma vez que poucos escritórios resolveram investir nessa ferramenta.
(textos: Marisa Fortes)
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